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Birdman

Birdman

Birdman (2014)
roteiro: Alejandro González Iñárritu, Nicolás Giacobone
direção: Alejandro González Iñárritu
3.5 out of 5 stars

No passado, Riggan Thomson (Michael Keaton) fez muito sucesso interpretando o Birdman, um super-herói que se tornou um ícone cultural. Entretanto, desde que se recusou a estrelar o quarto filme com o personagem sua carreira começou a decair. Em busca da fama perdida e também do reconhecimento como ator, ele decide dirigir, roteirizar e estrelar a adaptação de um texto consagrado para a Broadway. Entretanto, em meio aos ensaios com o elenco formado por Mike Shiner (Edward Norton), Lesley (Naomi Watts) e Laura (Andrea Riseborough), Riggan precisa lidar com seu agente Brandon (Zach Galifianakis) e ainda uma estranha voz que insiste em permanecer em sua mente.

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À primeira vista, dentre todos os filmes de Iñarritu, este foi o que menos me “pegou”. O filme é bom, apenas não teve o mesmo efeito em mim que os demais logo na primeira “assistida” – Biutiful foi um soco no estômago.

Assim como o protagonista, Iñarritu sai de su zona de conforto, deixando de lado sua “fórmula” conhecida – duas ou mais histórias, aparentemente desconexas, que em certo ponto do filme se juntam – e faz uso de um roteiro linear, trocando a experimentação narrativa pela experimentação técnica. Apesar de eu não ter me dado conta 100%, o filme todo é um único plano sequência, ou melhor, foi filmado de forma a parecer um – a exemplo de Russkiy kovcheg (A arca russa) e Rope (Festim diabólico). Já é um ótimo motivo para rever o filme. O interessante é a forma como Iñarritu usa esse recurso técnico. Nos filmes citados, o uso do recurso faz com que o tempo da narrativa seja igual ao tempo “real”. Iñarritu, de forma bem criativa, consegue incluir lapsos temporais e mesmo geográficos, em elipses bastante criativas.

Vale destacar que Iñarritu provavelmente não escolheu Michael Keaton à toa para o papel. Afinal, o problema de Riggan Thomson é similar ao de Keaton, que ganhou fama com Batman, depois sumiu. Interessante é que Riggan comenta algo nesse sentido, dizendo que ãs vezes tem a impressão de que a peça que está encenando fala dele próprio. E, indo além na metalinguagem, já sem a mão de Iñarritu, a crítica especializada em geral encarou Birdman da mesma forma que Tabitha (Lindsay Duncan), a crítica teatral, encarava a peça de Riggan – de má vontade, do tipo “não vi e não gostei”. E ambos acabaram escrevendo favoravelmente a respeito.

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A trilha sonora é um show à parte. Composta praticamente de solos de bateria – palmas para Antonio Sanchez – combina perfeitamente com o roteiro que alterna drama e comédia na justa medida, com tiradas sarcásticas muito bem estruturadas. E marca com eficiência a alternância entre o fluxo de consciência de Riggan e a “realidade”. Se, em alguns momentos ela é diegética, já que vemos o baterista em cena; em outros, claramente está presente apenas na mente de Riggan.

E não apenas de qualidade técnica é feito o filme. A crítica ácida à indústria do entretenimento, aos filmes de super-heróis que invadiram as telas nos últimas tempos se alterna com a análise da fama nos dias de hoje, em especial das celebridades de mídias sociais. É de Sam, filha de Riggan, que o personagem ouve as duas falas mais significativas a respeito disso:

It’s because you want to feel relevant again. Well, there’s a whole world out there where people fight to be relevant every day. And you act like it doesn’t even exist! Things are happening in a place that you willfully ignore, a place that has already forgotten you. I mean, who are you? You hate bloggers. You make fun of Twitter. You don’t even have a Facebook page. You’re the one who doesn’t exist.

(Você faz isso pois quer ser relevante de novo. Adivinha? Há um mundo lá fora onde pessoas lutam todo dia para ser relevantes. E você age como se não existisse. Coisas acontecem em um lugar que você ignora. Um lugar que, aliás, já se esqueceu de você. Quem diabos é você? Você odeia bloggers, tira sarro do Twitter, nem tem página no Facebook. É você que não existe.)

– You’re becoming a trending topic.
– Really?
– Yeah.
– I should show you this before someone else does.
– 350 thousand views in less than an hour. Believe it or not, this is power.

(- Você está se tornando um trending topic.
– Sério?
– Sim.
– Eu deveria te mostrar isso antes de outra pessoa.
– 350 mil visualizações em menos de uma hora. Acredite ou não, isso é poder.)

É um daqueles filmes que, ao falar a respeito ou assistir novamente, vamos descobrindo detalhes que nos fazem apreciá-lo cada vez mais.

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