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Casse-tête chinois

Casse-tête chinois

Casse-tête chinois (2013) – O enigma chinês
roteiro e direção: Cédric Klapisch
3 out of 5 stars

(resenha publicada originalmente no Vórtex Cultural, em 19/06/2014)

Diferente do que o título nacional possa dar a entender, não se trata de um thriller ou de um policial. O título original – quebra-cabeças chinês – tem muito mais a ver com a “dramédia” que é a vida do protagonista, Xavier Rousseau (Romain Duris). Estudante em L’auberge espagnole, escritor iniciante em Les poupées russes, Xavier, agora um autor estabelecido, beirando os 40, vê-se compelido a mudar de Paris para Nova York a fim de ficar perto dos filhos, levados pela ex-esposa, Wendy (Kelly Reilly).

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Xavier começa o filme lamentando que sua vida não seja mais simples, que não seja uma linha reta que o leve do ponto A ao ponto B, que tudo que lhe acontece seja mais complicado que a vida das outras pessoas. E, para exemplificar suas colocações, conta em flashback, enquanto escreve seu próximo livro, como chegou à situação atual. Como doou esperma para uma amiga lésbica – Isabelle (Cécile de France) – poder engravidar; como Wendy se envolveu com um americano durante uma estadia em Nova York; como ela se mudou para lá com os filhos; como ele a seguiu para estar com os filhos; como se casou com uma americana – Nancy (Li Jun Li) para conseguir o green card; como se envolveu com uma amiga francesa, Martine (Audrey Tatou), também com dois filhos. Enfim, como um francês recém-divorciado acabou em Nova York às voltas com quatro mulheres e cinco crianças.

Aproveitando a trama, Klapish aborda vários temas. Fala sobre a crise dos 40; sobre a consequência dos divórcios, além da dificuldade de levá-los a termo de forma civilizada; sobre formatos diversos de famílias; sobre fertilização in vitro; sobre o apelo irresistível da vida em Nova York, mesmo apesar da falsa impressão de que tudo lá é mais organizado; sobre a condição dos imigrantes nos EUA. Tudo com muita leveza, afinal trata-se praticamente de uma comédia romântica. A maior parte das questões é abordada com bom humor, desde o advogado de divórcio que aconselha o casamento para facilitar as coisas, até o taxista que cai numa “quebrada” ao pegar uma rua fora do padrão quadradinho.

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A montagem, que no início lembra um pouco um videoclip com cortes rápidos e personagens reproduzidos como bonecos 2D, vai ficando mais fluida à medida que Xavier vai tomando as rédeas da história que está escrevendo. Detalhes de cenas, que são mostrados recortados durantes os créditos iniciais, vão se encaixando e fazendo sentido à medida que a trama avança. Principalmente no primeiro terço do filme, há algumas inserções surreais – imaginação de escritor, alguns dirão – como a cena visualizada por Xavier enquanto ele está na salinha de doação de esperma; ou quando ele se imagina conversando com filósofos, na tentativa de compreender sua própria vida.

Apesar de parecer um pouco forçado em alguns momentos, perdendo a espontaneidade característica dos filmes anteriores, este filme é um bom encerramento para uma trilogia envolvente, que consegue ser coerente, sentimental, estranha, carismática, tudo ao mesmo tempo agora.

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