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El cuerpo

El cuerpo

El cuerpo (2012) – O corpo
roteiro: Oriol Paulo, Lara Sendim
direção: Oriol Paulo
3.5 out of 5 stars

O vigia noturno de um necrotério é atropelado ao abandonar às pressas seu local de trabalho. Ao investigar o fato, a polícia descobre que o cadáver de uma mulher recém-falecida, Mayka Villaverde (Belén Rueda), desapareceu. O inspetor encarregado, Jaime Peña (Jose Coronado), chama o viúvo, Álex Ulloa (Hugo Silva), para que ajude a entender o motivo do desaparecimento e a causa mortis de Mayka.

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Difícil comentar a respeito da trama sem dar spoilers. Mas é necessário dizer que o roteiro conduz o espectador por um caminho, enquanto deixa pistas de que a verdade pode ser outra e se oculta nos detalhes. Junto com os personagens, quem assiste levanta várias hipóteses – todas plausíveis – para explicar o que ocorreu e o que está ocorrendo durante a investigação. Indo de uma teoria conspiratória ao sobrenatural, passando por suspeitas que num instante se firmam e no momento seguinte se mostram falsas. Se fosse um livro, poderia se afirmar que o narrador não é confiável. O que nos é contado não chega a ser uma mentira, mas uma verdade parcial.

Vale destacar as inúmeras referências à obra hitchcockiana, começando pela forma como o espectador é conduzido através da trama. Há várias, mas a mais explícita é à famosa cena do copo de leite, com Cary Grant, em Suspicious. E, assim como tantos outros detalhes, enfatiza a natureza dúbia da estória, dos personagens, do que estamos assistindo. Nunca é possível ter certeza de que o que vemos é o que parece ser. Esse jogo de luz e sombra, revela uma parte enquanto oculta outra, essa dubiedade dos fatos é exemplificada em várias cenas em que se faz uso de reflexos – seja em vidraças, espelhos, objetos metálicos.

A trama é construída utilizando-se de flashbacks inseridos com parcimônia, complementando o que é dito pelos personagens ou ilustrando alguma lembrança. Diferente do que comentei no post anterior, sobre os flashbacks em Saving Mr. Banks, estes são necessários para contextualizar os eventos atuais e em momento algum interrompem a fluidez da estória. Ao contrário, acrescentam informações importantes para o desenvolvimento da trama e dos personagens. Além disso, servem como um respiro para o fluxo narrativo principal, cuja sucessão de eventos ocorre num intervalo de oito horas, durante o qual os personagens se encontram confinados ao edifício do necrotério, impossibilitados de sair tanto pela chuva torrencial quanto pela necessidade de resolver o mistério.

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Além do roteiro, o elenco é também responsável por tornar o filme tão envolvente. É basicamente um filme de atores, já que pouco se percebe a direção. Belén Rueda repete a ótima performance vista em Los ojos de Julia. Mayka aparece somente nos flashbacks e é o suficiente para Belén mostrar o quanto ela consegue ser irritante e excessivamente cheia de si. E o maior destaque é para a interação, ou embate, entre os personagens de Coronado e Silva. Ambos conseguem caracterizações bastante convincentes ao transmitir com pequenos gestos as flutuações emocionais tanto de Peña quanto de Álex.

Enfim, é uma premissa simples que resulta num filme bem construído, com um desfecho criativo que deixa o espectador com vontade de assistir tudo novamente para ter certeza de que nenhuma ponta foi deixada solta. E não foi.

One comment

  1. Depois que assisti REC em 2008, descobri um nicho de filmes que até então não havia explorado, no caso, estamos falando de filmes e diretores espanhóis onde posso resumi-los todos com um grau de insanidade acima de nós, meros mortais. Confira minha reZenha crítica de El Cuerpo filmasso espanhol que está na lista do Netflix –

    http://rezenhando.wordpress.com/2016/06/27/rezenha-critica-el-cuerpo-2012/

    Curtam no face a página: https://www.facebook.com/rezenhandoaculturapopaz

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