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Tarzan

Tarzan

Tarzan (2013) – Tarzan 3D: a evolução da lenda
roteiro: Reinhard Klooss, Jessica Postigo
direcão: Reinhard Klooss
1 out of 5 stars

(resenha publicada originalmente no Vórtex Cultural, em 20/01/2014)

Sinopse
Depois de perder os pais em um acidente de helicóptero, John Greystoke Jr. é deixado à própria sorte em uma remota parte da África. O menino de três anos cresce em meio a uma tribo de gorilas e se torna o independente Tarzan. Com a morte do líder da tribo, contudo, o jovem é perseguido e expulso por Tublat, o novo chefe. Enquanto isso, Clayton, um ambicioso executivo das empresas Greystoke, tem planos de exploração mineral que podem acabar com todo o ecossistema africano. Na esperança de impedir a destruição, Jane, que já encontrara Tarzan quando adolescente, busca no rei da selva a salvação. Dividido, Tarzan precisa enfrentar desafios do mundo humano e animal, utilizando sua inteligência e conhecimentos da selva para enfrentar Clayton e Tublat, além de salvar a mulher que ama.

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Esta é a “enegésima” adaptação da obra literária de Edgar Rice Burroughs. E, tal como num telefone sem fio, alguns aspectos da história se perderam ou se truncaram durante a “transmissão”. Sabe-se lá em que momento Greystoke e Clayton deixaram de ser a mesma pessoa. Originalmente, John Clayton (o nome “inglês” de Tarzan) é o Visconde – ou Lorde – Greystoke. Em algum ponto, nesse mar de adaptações teatrais, cinematográficas e de animação, John Clayton deixou de ser o nome do mocinho e passou a ser o do vilão. Isso, além de outros elementos, leva-nos a concluir que as versões mais recentes não são uma adaptação da obra de Burroughs, mas sim, uma adaptação de uma das adaptações que (espero) tenha sido bem sucedida. Desse modo, não é possível julgar como um erro de roteiro se essa imprecisão está presente. Infelizmente, outros tantos problemas narrativos impedem o espectador de sair satisfeito da sala de cinema.

No início de filme, situações improváveis se sucedem numa quantidade surpreendente. Verdade que é um filme voltado ao público infantil, mas isso não justifica que os eventos não precisem fazer sentido. A rota do helicóptero, que ao fazer um trajeto rotineiro passa por um lugar nunca antes avistado; a atitude imprudente e duvidosa primeiro do pai de John – ao resolver explorar o local – e depois da mãe – ao ir, com o filho, em busca do marido; a “reação” inexplicável da montanha; a queda do helicópero, violenta o suficiente para destruir o aparelho, mas não o bastante para causar a morte de todos os passageiros . Apenas para citar alguns exemplos sem contar demais da história.

Chamar o filme de “A evolução da lenda” é um eufemismo para justificar a adição de elementos estranhos ao original e, a meu ver, totalmente dispensáveis. Qual a necessidade de incluir dinossauros e substâncias alienígenas? Nesse contexto, transformar o vilão no representante de uma corporação em vez de ser apenas um homem ganancioso, talvez seja o menor dos problemas.

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O que provavelmente mais incomoda o público é a tentativa (infrutífera) de copiar alguns elementos da animação da Disney – referência para a maioria dos espectadores. Posicionamentos dos personagens – principalmente do protagonista- , alguns trechos em que Tarzan “cresce” enquanto atravessa a selva, algumas cenas de ação, tudo isso deixa o espectador com aquela sensação de ‘déjà-vu’ constante e incômoda. Um tiro no pé, nada mais. Além disso, seria ingenuidade acreditar ser possível cativar o público do mesmo modo como o fez a Disney e a trilha sonora de Phil Collins.

Aliás, na trilha sonora, registra-se mais um ponto falho. No trecho idílico em que Tarzan mostra a selva a sua amada Jane, a música que toca é “Paradise”, do Coldplay. Ok, tem a ver com a situação, já que reflete a percepção dos personagens. Mas incluir uma música que virou marca registrada de um blockbuster recente – “As aventuras de Pi” – é, no mínimo, uma escolha equivocada pois automaticmente o espectador é “levado” ao outro filme pela melodia.

Sobre a parte técnica, mais especificamente sobre a animação por computador, há pouco a dizer. Não é ruim, mas fica aquém de algumas produções anteriores – “Avatar”, por exemplo, ou mesmo os mais caricatos, tipo “Como treinar seu dragão”. Os personagens, para um desenho animado, são bem críveis – até abrirem a boca para falar. E se por um lado percebe-se preocupação com pormenores – os cabelos meio “grudados” e a pele do Tarzan, levemente manchada de terra e sujeira – por outro, há detalhes que dariam mais credibilidade ao personagem mas que foram deixados de lado – um homem da selva com unhas limpas e bem aparadas? Não faz sentido. Pode parecer preciosismo, mas se deram atenção à pele ligeiramente suja, por que não fazer o mesmo com as unhas? E sobre o 3D, não há nada a comentar, já que não foi explorado de modo a contribuir com a experiência de assistir ao filme. Um ou outro outro elemento pulando da tela e nada mais.

Talvez o público infantil curta o filme, pelas cores, pelos animais, pelas cenas de ação. Mas infelizmente o adulto que levar as crianças ao cinema não irá se divertir tanto. Na certa, ao sair da sessão estará saudoso da versão Disney, não vendo a hora de chegar em casa, colocar o blu-ray no player e cantarolar “You’ll be in my heart” junto com Phil Collins.

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